Terça-feira, 23 de Junho de 2009

"Emort" - Continuação

Olá...

Bem, hoje vou postar mais um bocadinho da minha história... Não se esqueçam das histórias fantásticas da Priscila e da Maria V.

Espero que gostem!

 

 

 

 

(...)

À medida que regressava a mim, apercebi-me que o som horrível que acabara de ouvir tratava-se dum tiro de pistola. Um som que, para mim, tinha um significado muito mais terrorífico; um som que me levava a voltar aos meus tempos de luto – o ano em que meu pai, Lewis, fora violentamente assassinado, mesmo em frente dos meus olhos.

Era a única pessoa paralisada no meio da confusão e do horrendo. Não me conseguia mover, pois o som provocava-me uma dor tão profunda e tão forte que me paralisava dos pés à cabeça.

Um impacto fortíssimo acabara de atingir todo o lado direito do meu corpo e me obrigara a cair no chão, atordoada. Enquanto recuperava os sentidos, não via nada à minha frente, ouvia o que se estava a passar mas muito ao longe, todos os gritos e algazarra do momento estavam abafados, apercebi-me que estava a ser arrastada violentamente pelo chão, não no sentido de me magoarem, mas no de me protegerem com toda a determinação. Mas porque razão iria um dos bandidos proteger-me? Será que me estariam a raptar? Não queria pensar no meu destino nas mãos destes bandidos, pois seria tão horrível como o de muitas jovens perdidas nesse mundo fora, mas uma vez que me poupavam da morte prematura, segundas intenções tinham de certeza.

Quando dei por mim mais desperta, estava deitada debaixo do que me parecia ser um balcão, talvez um dos balcões do bar da escola, pois não tinha sido arrastada o suficiente para sair do bar. A confusão, agora mais audível e nítida, estava cada vez mais forte e perturbante, não se ouviam só gritos e tiros de pistola, mas também explosões, ao longe e ao perto.

Estava ciente que a minha morte estava prestes a atingir-me, que não iria sobreviver mais tempo, e o tempo que tinha sobrevivido até agora devia-se ao facto de uma pessoa desconhecida me ter posto em segurança escondida debaixo daquele acolhedor balcão.

Ao sentir uma explosão enorme e um impacto tão grande que provocou um tremor de terra, concluí que o fim tinha chegado. Inconscientemente, arrastei o meu corpo para dentro dum comprido armário de metal atrás de mim. Ao fechar as portas, algo pôs-se entre as portas de metal, impedindo-as de se fecharem. Foi então que tive a certeza em relação às minhas teorias – fora um bandido que me arrastara para li, e que agora ia-me buscar, para me levar consigo e fazer de mim o que quisesse.

As portas abriram-se violentamente, e, em vez de me puxarem para fora, as mãos, quentes e suaves, empurraram-me gentilmente ainda mais para dentro, de maneira a que outro corpo coubesse lá. O misterioso bandido entrou no apertado espaço, acomodando-se levemente ao meu lado e fechando as duas pesadas portas do armário de metal.

- Olá, eu sou o Will… Desculpa ter-te trazido para aqui de uma maneira tão brusca mas estavas parada ali no meio do perigo e alguém tinha que fazer alguma coisa – disse ofegante. – Estás bem? - sussurrou-me.

- Hum… Sim, estou óptima… hum… obrigada. – retorqui-lhe ainda confusa.

- Não me deves conhecer, eu sou novo aqui na escola, é o meu primeiro dia aqui… e que primeiro dia incrível! – disse com um tom sarcástico e enquanto soltava um sorriso tímido.

Não conseguia responder-lhe, as palavras faltavam-me não só por não ter voz mas também por não conseguir encontrar as que queria. Era um sentimento esquisito, e não sabia porque razão estava tão fora de mim. Apenas duma coisa tinha a certeza – não era um bandido, mas sim um novo aluno.

- E tu? Como te chamas? – sussurrou-me mais uma vez.

- Hum… Sarah… - respondi-lhe com um tom rouco, quase inaudível.

A confusão e o pânico continuavam lá fora. Continuava a ouvir explosões, gritos e tiros… Estremecia sempre que o chão tremia com novas explosões. Apesar do armário ser bastante pequeno sentia-me incrivelmente segura ali dentro. Estava bastante escuro – quer abrisse ou fechasse os olhos não via qualquer diferença na iluminação – mas, estranhamente, não estava com medo, muito pelo contrário sentia-me muito confortável no meio da escuridão.

Enquanto tentava achar uma explicação para o meu comportamento anormal, outra explosão acontece. Mas muito diferente – muito mais violenta do que qualquer uma das outras. Um estouro enorme, quase impossível de descrever, abateu sobre o solo, um impacto tão forte que me abanou dum lado para o outro dentro do apertado armário de metal. Estava em pânico, senti as lágrimas inundarem-me os olhos à medida que pensava no que estava a acontecer – a escola estava a ruir, mesmo por cima de mim.

Tremia e chorava, invadida pelo desespero e dor. Até que algo me agarrou e rapidamente parei de tremer. O braço direito de Will acabara de deslizar por debaixo dos meus ombros e de me puxar para junto do seu corpo, com o outro braço, agarrou-me pela cintura, aconchegando-me ainda mais para si, até os nossos corpos ficarem completamente colados.

- Não tenhas medo… Estou aqui contigo! – sussurrou-me ao ouvido.

Ao sentir a sua respiração, quente e confortável, um arrepio percorreu-me o corpo, um arrepio não de frio, não de medo, mas de algo que não conseguia explicar, algo fora deste mundo, um sentimento novo, inventado exclusivamente para mim e para este momento.

Sentia-me terrivelmente bem, apesar do horror que decorria fora daquele pequeno armário, ou melhor, do meu esconderijo perfeito, não, melhor ainda – do nosso esconderijo perfeito.

O corpo de Will era perfeito, pelo menos para mim. Ainda não o tinha visto à luz do dia, mas também não precisava – apenas tacteando percebi que era bem constituído, não excessivamente musculado como todos os outros “robôs” da escola, mas era bem definido. Deixei-me levar pelo seu tentador toque e atrevi-me a tocar-lhe também, agarrei-me com toda a força a ele, enroscando ambos os meus braços à volta da sua cintura, fazendo com que ficássemos ainda mais chegados.

Os nossos corpos encaixavam na perfeição, como duas peças de puzzle. Ali sentia-me bem. Melhor que isso - sentia-me como nunca me tinha sentido em toda a minha vida, senti-me, finalmente, completa. Tinha encontrado o que me faltava desde o dia em que nasci.

Sentindo-me confortável, não fui capaz de lutar contra o cansaço e adormeci profundamente. 

 

 

Continua...

 

sinto-me: Cansada...
música: Claude Debussy - Clair de Lune
publicado por Diana às 22:30

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De Maria a 24 de Junho de 2009 às 13:38
Eu não tenho palavras, está simplesmente magnifica...

Continua =)

P.S - cuase chorei com este bocadinho da tua história :x
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De
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